O uso regular de equipamentos de proteção individual (EPI) contra a COVID-19, como máscaras, viseira e óculos, provoca dores de cabeça na maioria dos casos e agrava as crises de enxaqueca de quem já habitualmente sofre com esta doença. As conclusões são do primeiro estudo desenvolvido a nível nacional sobre este tema, realizado por uma equipa de neurologistas do Centro de Cefaleias do Hospital da Luz e da Sociedade Portuguesa de Cefaleias em colaboração com a MiGRA Portugal (Associação de Doentes com Enxaqueca e Cefaleias), que aconselha, como medida de prevenção em geral e sempre que possível, a introdução de intervalos para descanso, em condições de segurança, na utilização destes equipamentos. Há algum tempo que os neurologistas tinham a perceção, pelas queixas relatadas pelos doentes, que o uso prolongado de máscara causa dores de cabeça, existindo poucos relatos na literatura acerca deste tema, focados nos profissionais de saúde. Com a generalização do uso destes equipamentos para prevenir a COVID-19, impunha-se avançar com um estudo em larga escala . Dirigido à população em geral, este inquérito foi realizado entre setembro e dezembro de 2020, tendo respondido 5.064 pessoas de todos os distritos de Portugal Continental e das Regiões Autónomas , com a idade média registada a situar-se nos 37 anos. A maioria dos inquiridos são mulheres (90%) e, em termos profissionais, cerca de 20% afirmaram trabalhar no setor da saúde. De referir que as mulheres são quem habitualmente mais sofre com cefaleias, o que explicará em grande medida o seu elevado nível de participação. Conclusões principais No total dos inquiridos, 56% declararam que, desde que usam regularmente máscara, viseira ou óculos, desenvolveram novas cefaleias; 90% dos que já sofriam com enxaquecas anteriormente à pandemia afirmam que notaram um agravamento global destas situações desde que passaram a usar EPI; Além de um aumento na frequência, duração e intensidade das crises, quem já sofria com cefaleias diz que nota pior eficácia da terapêutica que faz habitualmente para controlá-las. A equipa que concebeu este inquérito nacional e analisou os resultados é constituída por Raquel Gil-Gouveia , Renato Oliveira , Elsa Parreira e Sara Fernandes Machado , do Centro de Cefaleias do Hospital da Luz, Liliana Pereira, da direção da Sociedade Portuguesa de Cefaleias , e Madalena Plácido, presidente da MiGRA Portugal . “ O uso de EPI é fundamental no contexto atual e deve manter-se escrupulosamente. Mas, tendo em conta as conclusões do estudo que fizemos, é aconselhável tomar medidas preventivas ”, salienta Renato Oliveira. Entre essas medidas está, por exemplo, “a introdução de intervalos regulares no uso destes equipamentos, para descanso”, bem como o teletrabalho ou então o trabalho presencial por períodos mais curtos, “quando isso é possível”.